Com os pés na cabeça

Pode ser a Tiazinha ou a Margareth Tatcher. A primeira coisa que o carioca Capa (como preferiu ser chamado para não revelar sua identidade) vai olhar são os pés. Ele é podólatra desde pequeno. Hoje, aos 63 anos, ele não se interessa mais pelo físico, inteligência ou simpatia de uma mulher: "eu não quero saber se a garota é feia, bonita, zarolha... eu quero ver o pé dela!", conta.
Toda essa obsessão se chama podolatria. A palavra vem do grego: podo (pés) e latria (adoração), e designa pessoas que não vêem os pés como outra parte do corpo qualquer, mas sim como uma parte que desperta fantasia e desejos sexuais.
Segundo a psicóloga Laura Menezes, "Não tem nada demais gostar de pés. Freud diz que a sexualidade não é só no genital. Mas, se o pé passa a ser um fetiche, se a pessoa passa a gostar só de pés, há uma supervalorização deste órgão. A erogenização do membro tem um investimento libidinal grande e a pessoa deixa de usar essa energia para coisas mais produtivas como o trabalho, conhecimento, o lazer, na parte amorosa e também no ato sexual".
Capa se encaixa neste quadro: "No meu caso se tornou uma coisa mais doentia. Eu fico 24 horas por dia pensando em pés", revela. Durante muito tempo ele se sentiu culpado e diz que só passou a se aceitar depois que o cartunista Henfil, disse publicamente ser um podólatra. Nesta entrevista para o Mulher de 30, Capa contou detalhes sobre a sua maior paixão desde a sua infância até hoje dias de hoje. Conheça a história deste homem que vive com os pés na cabeça!
Mulher de 30: Como você define podolatria?
Capa: A podolatria, no meu modo de entender, é uma submissão. O pé é uma parte do corpo que fica lá embaixo e o podólatra se sente dominado pela pessoa por causa dele. O carinho no pé é normal, mas para mim é a submissão total
Mulher de 30: Quando você descobriu essa fascinação por pés?
Capa: Desde garotinho eu sou podólatra. A minha primeira lembrança de podolatria foi quando eu tinha dez anos. Eu estava na rua, morava em Ipanema e vi um menino da mesma idade que eu subjugando um garoto mais fraco. E ele colocou o garoto deitado no chão, e ficou segurando os braços dele, enquanto sua irmãzinha vinha e ficava pisando no rosto do garoto. Aquilo na minha idade me deixou doido. Então, todo dia eu provocava briga com esse menino pra ver se a irmã dele fazia o mesmo comigo. Eu era mais forte que ele, mas me deixei dominar e falei "só não vale a sua irmã pisar na minha cara". Aí lógico que ela foi e isso pra mim foi o máximo!
Mulher de 30: A podolatria pode ser considerada uma espécie de perversão?
Capa: Eu não admito, em hipótese alguma uma pessoa fale uma coisa dessas, como eu vejo falarem. Não é. Os podólatras e os masoquistas são pessoas dóceis que não fazem nada para prejudicar ninguém e têm até medo que isso cause qualquer tipo de constrangimento para a pessoa.
Mulher de 30: Você já foi recriminado por ser podólatra?
Capa: O podólatra é tratado como tarado. Tarado por pés. Eu acho uma coisa muito forte. A coisa que eu mais queria no mundo era ser como outra pessoa qualquer. Mas na minha condição, eu só gosto de pés, mais nada.
Mulher de 30: O resto do corpo da mulher não te atrai? Nem a idéia de fazer sexo com ela?
Capa: Não. A não ser que ela me obrigue para o prazer dela. Aí entra o meu lado masoquista. Eu não sinto prazer em fazer sexo. Eu gosto de ser mandado, eu quero ser escravo.
Mulher de 30: E onde o pé entra nisso?
Capa: Por exemplo: eu estou aqui e, embaixo de uma mesa, uma garota tira o sapato. Isso me excita. Não que eu vá ficar "ereto" mas me dá uma sensação boa. Eu não paquero, eu "pé-quero".
Mulher de 30: Então o seu orgasmo é mais visual do que físico?
Capa: Perfeito.
Mulher de 30: Você tem atração só por pés femininos?
Capa: Só. Eu nem gosto que nenhum homem saiba que eu sou podófilo. E não gosto de pés masculinos de maneira nenhuma. Aliás, nem sei como mulher gosta de homem! Chatos, feios, cabeludos...
Mulher de 30: Como você se sente sendo podólatra?
Capa: Eu sempre tive muita sensação de culpa por causa disso, como sinto até hoje. Eu tentei fazer psicanálise, mas não deu certo. Eu ficava olhando pro pé da minha psicanalista. Eu também já estive internado em um sanatório porque eu não me aceitava, então bebia muito. Eu via o exemplo dos meus irmãos, casados e com filhos e eu só gostava de pés, de apanhar. E achava aquilo horrível. Daí, cortei os pulsos, tinha mania de suicídio. Então, eu saí das "trevas da ignorância". E quem me tirou foi o Henfil, que foi a primeira pessoa pública a se declarar um podólatra. Passei a ver que eu sou assim e que iria tentar viver com isso. Mas a coisa cresce: começa com pés, vai para as bofetadas, com o tempo passa para as chicotadas e vai crescendo. Aí sim, que eu acho que é perversão. Mas eu só admito que a pessoa seja chamada de tarada quando ela prejudica alguém. Eu não prejudico ninguém. O masoquista gosta de humilhação, de ser escravizado. Mas, que nós somos totalmente discriminados, nós somos.
Mulher de 30: E como a sua família vê tudo isso?
Capa: Ninguém sabe. É difícil, é como se fosse uma vida paralela. Meus amigos homens não sabem. E é horrível pra mim isso. Eu choro. Eu tenho um filho e morro de medo que ele saiba de qualquer coisa. Porque as pessoas não vão entender em hipótese alguma. Isso é tratado como uma aberração.
Mulher de 30: Você tem outro fetiche além de pés?
Capa: Como eu disse, a coisa vai crescendo: primeiro eu gostava de pés, agora eu gosto de sandálias usadas. Eu compro sandálias usadas de mulher. Eu não compro em brechó, eu quero a sandália que a mulher estiver usando naquele momento. Eu me masturbo pensando no pé que calçava a sandália. É loucura, mas eu não prejudico ninguém.
Mulher de 30: E você gosta de pés com chulé?
Capa: Eu gosto de pé meio suadinho. Eu não gosto de pé com cheiro de sabonete, não pode estar perfumado, não. Uma vez eu arrumei uma namorada, na época em que eu namorava. Era uma garota muito bonita. Ela passou perfume no pé e eu nunca mais a vi! Mas, o que me excita realmente é estar sentado em um barzinho e ver uma garota tirando o sapato. Mas ela tem que estar sabendo que eu estou olhando pro pé dela. Porque, senão, eu iria pra praia. Mas na praia eu não sinto tesão nenhum. Eu gosto que a garota veja que eu estou vendo o pé dela e que ela fique mexendo os dedinhos.
Mulher de 30: E qual o seu tipo preferido de pé?
Capa: Grande. A idéia de pegar o pé de uma jogadora de basquete me atrai. Quanto maior, melhor. Eu gosto dos pés da Simone, da Vera Fisher... Tem várias. Não gosto do pé da Tiazinha, porque acho pequeno demais. Gosto de pé com a sola cor de rosa. Gosto de pé forte, com as veias aparecendo. Enfim, gosto de todo tipo de pé, menos de pequenininhos, mas aceito também, de bom grado!
-- Dominique Abaurre Valansi

Ver também: Podolatria: Prazer ou transtorno? | Como reconhecer um podólatra | Senso estético | Melô do PodólatraArtigos

👠 Telegram channels: Podolatria | Podogram | Femdom | Livros

Nenhum comentário: